2°Semestre* Lição 3- Família: Éramos tantos e somos
tão poucos
Os casais têm
menos filhos, os filhos se dispersam,
os primos desaparecem, ninguém quer opinião
de tia
– e as famílias enormes viram um retrato na parede
REVISTAS VEJA
Juliana Linhares
Fotos
Roberto Setton e Álbum de família
REUNIÃO A DUAS
Aos domingos, Vera (retratada
quando bebê, na época da família ampliada)
ainda almoça com a mãe, Vilma, mas a filha,
Thais, raramente aparece
Até vinte
anos atrás, a empresária Vera Mattos, hoje com
53 anos, almoçava todos os domingos na casa de sua
mãe, no bairro da Lapa, em São Paulo. Desses
almoços faziam parte pelo menos outros vinte parentes.
Todos chegavam de manhã e preparavam juntos a massa
do espaguete e o frango assado. A comilança se estendia
até a noite, quando as mulheres voltavam para a cozinha
e assavam pizzas, que fechariam o encontro. Sua mãe
e uma empregada ficavam até de madrugada arrumando
a casa. Há uns dez anos, os pais de Vera sofreram um
assalto traumatizante e se mudaram para um apartamento. O
número de convidados para os almoços dominicais
encolheu. Com o tempo, os sobrinhos de Vera e a sua filha
única, a publicitária Thais, 24, desistiram
da visita semanal à avó. Vera e seus dois irmãos
se divorciaram. A família numerosa diminuiu dramaticamente.
"Trago minha mãe para almoçar no meu restaurante
no domingo e ficamos só nós duas", conta
a empresária, com um tom de melancolia na voz. "Nem
lembro quando foi a última vez em que a família
se reuniu. Hoje em dia todo mundo tem muita autonomia desde
cedo, não existe muita obrigação",
diz Thais, que vê no fim da tradição um
lado ruim e um lado bom. O ruim: "Quando eu era pequena
e todo mundo se encontrava mais, eram sempre os mesmos assuntos,
as mesmas implicâncias, mas isso faz parte da vida em
família. Acho que se perde muito da união".
O bom: "Todos os mais velhos se acham no direito de criticar
os mais novos. É como se vários pais se unissem
contra os filhos".
O encolhimento da
família de Vera e Thais ocorre da mesma forma na maioria
das casas brasileiras. Aquela família enorme, com dezenas
de tios, primos e agregados, é um fenômeno em
extinção. Os estudos sobre a mudança
demográfica, com todas as suas consequências
sociais, mostram que a principal causa desse enxugamento é
a queda acentuada na taxa de fecundidade. "Nos anos 1970,
havia 6,2 filhos para cada mulher. Hoje, essa taxa caiu para
1,8", compara Marcelo Neri, economista da Fundação
Getulio Vargas. "O processo de queda, além de
intenso, aconteceu em um tempo muito curto. Nos países
europeus, esse decréscimo demorou cinquenta anos",
diz a socióloga Ana Lúcia Sabóia, pesquisadora
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). As separações também são
consideradas uma grande impulsionadora do encolhimento familiar.
Segundo o IBGE, o número de divórcios no Brasil
aumentou 52% nos últimos dez anos, sem contar as uniões
e as desuniões não oficializadas. "O casamento
até a morte era mais fácil no passado, quando
se vivia até os 60 anos. Hoje, as pessoas vivem até
os 90. É muito mais difícil ficar esse tempo
todo junto", avalia Neri.
Paralelamente às
explicações demográficas para a redução
das famílias, existe também a fragmentação
dos núcleos familiares – os laços com primos
de graus distantes e tios de gerações imemorais
perderam a força, quando não desapareceram.
"A família grande era incômoda, dava palpites,
interferia na educação dos filhos dos outros.
A família nuclear, composta de pais e filhos, é
mais individualista, quer criar as crianças do seu
jeito e não depender da parentada para nada",
diz Magdalena Ramos, terapeuta de casais e de família.
Sem contar que não há espaço nem dinheiro
para acomodar as festas de família à moda antiga.
"As famílias brasileiras não têm
a desenvoltura das europeias, que, quando convidadas para
jantar na casa de alguém, levam um prato de comida
para ajudar", afirma Lidia Aratangy, psicóloga
e terapeuta de família. Estudos demográficos
feitos recentemente levantam outras causas do enxugamento
das famílias. Um deles, do IBGE, revela que nos anos
80 a taxa de urbanização no Brasil era de 65%
e hoje é de 83,5%, o que indica que muitas famílias
se cindiram, com parentes mudando-se do campo para os centros
urbanos. Outro estudo, este realizado entre 1997 e 2007, mostra
que, há doze anos, um nada em termos de transformações
sociais, 56,5% das famílias tinham filhos morando em
casa. Em 2007, esse número baixou para 49%. "Eu
tenho quatro filhos. Um mora no Chile, outro na Alemanha,
o terceiro em Piracicaba e o quarto em Campos do Jordão.
O mundo ficou menor, mas nós, em compensação,
nos vemos muito menos", descreve a psicóloga Ceneide
Cerveny, de São Paulo.
Roberto
Setton
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NINHO VAZIO
Carolina está saindo
da casa dos pais, Armando e Maria, e já avisou:
não pretende ter filhos |
Maria e Armando
Narumiya, ele engenheiro, 63 anos, ela dona de casa, 50, não
só lamentam a falta de contato entre parentes como
enfrentam, no momento, uma redução ainda maior
do seu núcleo principal: os dois filhos, ambos solteiros,
alugaram um apartamento e vão morar longe dos pais.
Maria conta que na casa onde cresceu era normal juntar até
cinquenta parentes numa simples reunião. "Hoje,
além de não conseguir levar meus filhos para
visitar os tios, ainda passo a vergonha de vê-los trancados
no quarto quando alguém vem me ver", diz. Sua
filha Carolina, 28 anos, publicitária, já anunciou
que não tem a menor intenção de ter filhos.
"Fiquei triste, porque meu sobrenome pode acabar na geração
dela", diz o pai. Sobre a mudança iminente de
casa, Carolina brinca: "Falei para a minha mãe
não ficar triste, porque a gente volta para trazer
a roupa suja para lavar" – este, em geral, o último
vínculo filial a se partir.
Por mais que os
pais achem doloroso, a saída dos filhos de casa é
normal e desejável, e os "cangurus", como
são chamados os trintões solteiros que não
mudaram de endereço, continuam a ser exceção.
"As casas antes comportavam três gerações:
os avós, a filha deles com o marido e os netos. Hoje,
ninguém mais quer morar com os pais. Além disso,
quando os pais ficavam doentes, eles eram cuidados na casa
dos filhos. Agora, são mandados para casas de repouso",
diz Magdalena. A psicóloga Lidia aponta como desvantagem
nesse encolhimento o fato de as crianças, principalmente,
perderem a possibilidade de conhecer diferentes tipos de relacionamento.
"Fazia bem para os pequenos perceber que os tios tinham
uma forma distinta de tratar os filhos", avalia. Mas
vê como vantagem os pais, ao se concentrar apenas nos
poucos filhos que têm, poderem se dedicar muito mais
a eles. "A verdade é que nas famílias com
cinco, seis crianças, os pais não tinham tempo
para conhecê-las direito", diz. E ainda tinham
de aguentar os palpites de todo mundo.
Comentário
Essa matéria
da revista VEJA me chamou muito a atenção porque é exatamente o que acontece
hoje em dia, às famílias estão cada vez mais distantes, mas sabemos que isso é
o cumprimento da palavra de Deus. Porém nós como cristãos não devemos seguir
essa evolução, pois fomos chamados para fazer a diferença. No ultimo paragrafo da
reportagem retrata a normalidade de filhos solteiros saírem de casa, algo que
não concordo, nós cristãos devemos sair da casa de nossos pais apenas ao nos
casarmos ou quando morrermos.